Você sabe como as marés moldam nossas praias?
As zonas costeiras são áreas em constante transformação. Nelas, forças naturais como os ventos, as ondas, as correntes e as próprias marés atuam todos os dias, somando-se aos efeitos da ação humana, das mudanças climáticas e de fenômenos extremos, como El Niño e La Niña, que alteram a temperatura dos oceanos e influenciam diretamente o ambiente costeiro.
Essas regiões, por serem zonas de transição entre a terra firme e o mar, possuem características muito particulares. São marcadas por processos dinâmicos que fazem com que sedimentos sejam levados de uma região e depositados em outra. Em alguns casos, acontecem fenômenos menos comuns, como a acreção de praia — quando uma área da costa que estava submersa volta a emergir, revelando como o ambiente está sempre em movimento.
E como isso está relacionado com a costa amazônica?
Esses processos são ainda mais interessantes (e complexos) em áreas tropicais e equatoriais, como a costa amazônica. Ali, o encontro de grandes rios com o mar, a influência de correntes marítimas e a presença de bancos de areia fazem com que o comportamento da costa seja bastante único. Mesmo com tanta riqueza natural e científica, essa região ainda é pouco estudada em comparação com outras zonas costeiras do mundo.

Figura 1. Costa Amazônica. Fonte: Portal Amazônia. Disponível em: https://portalamazonia.com/amazonia/portal-amazonia-responde-quais-as-consequencias-do-encontro-do-rio-amazonas-com-o-mar/
O que a ciência está descobrindo por aqui?
Pensando nisso, a pesquisadora Leilanhe Ranieri, da Universidade Federal do Pará (UFPA), decidiu investigar como as marés influenciam o transporte de sedimentos em quatro praias da cidade de Salinópolis, no Pará. Nessa área, as marés exercem forte influência sobre o deslocamento dos sedimentos, e entender esse processo é essencial para compreender a dinâmica da região.

Figura 2. Mapa do local da coleta de dados. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/PesquisasemGeociencias/article/view/116073/85566
Na pesquisa, foram utilizados sensores para medir maré, turbidez e altura das ondas, além de medidores de corrente, que registram a velocidade da água. Os dados revelaram que, durante a vazante — quando a maré está baixando — especialmente na estação chuvosa, as correntes atingiram velocidades de até 1,2 metros por segundo. Isso significa que a força da água nesse período é suficiente para movimentar grandes volumes de sedimentos ao longo da costa.
Ao mesmo tempo, observou-se que as ondas na praia do Atalaia, uma das analisadas no estudo, também ficaram mais intensas nessa época do ano, colaborando para esse transporte sedimentar. Curiosamente, a turbidez da água — que mede a quantidade de partículas em suspensão — foi maior durante o período seco. Isso ocorreu devido à ação dos ventos e das ondas, que, mesmo com menos chuvas, continuam agitando os sedimentos e mantendo a água mais turva.
A comparação entre os dois períodos do ano mostrou padrões importantes: durante a estação chuvosa, o transporte de sedimentos é mais influenciado pela força das correntes de maré, que são reforçadas pelo aumento do fluxo dos rios. Já na estação seca, as ondas e os ventos assumem um papel mais relevante, provocando mudanças no formato da linha costeira. Essas descobertas ajudam a entender como diferentes fatores naturais interagem para moldar o litoral amazônico.
Referências
RANIERI, Leilanhe Almeida; ROSÁRIO, Renan Peixoto; TRITINGER, Amanda Sue; EL-ROBRINI, Maâmar. Coastal dynamics on equatorial beaches of Amazonian coast during extreme tide events. Pesquisas em Geociências, v. 49, n. 1, e116073, 2022. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/PesquisasemGeociencias/article/view/116073.