Você sabia que substâncias presentes em remédios, cosméticos, produtos de limpeza e agrotóxicos podem estar contaminando os rios do Brasil? Dentre eles, os compostos chamados Contaminantes Emergentes (CEs) não possuem obrigação de monitoramento e podem causar sérios danos à vida aquática — especialmente a espécies que já estão ameaçadas de extinção.
Esses poluentes entram nos rios principalmente pelo despejo de esgoto doméstico e industrial, muitas vezes sem tratamento. Apesar de invisíveis a olho nu, eles estão longe de ser inofensivos. Estudos utilizam uma ferramenta chamada Quociente de Risco (QR) para medir o quanto essas substâncias representam perigo para os organismos. Quando o valor do QR passa de 1, o alerta está ligado: isso significa que há risco real para a biodiversidade.
A região Norte do Brasil é a que possui mais água doce disponível no país. Apesar disso, há poucos estudos sobre os impactos desses contaminantes na região. E isso é preocupante: mesmo sendo menos povoada que as outras, a região já mostra sinais de poluição, colocando em risco animais como peixes e anfíbios.

Figura 1. Peixes mortos no rio Amarapari. Disponível em: https://revistacenarium.com.br/no-ap-contaminacao-em-rio-deixa-cidade-ha-10-dias-sem-agua-e-provoca-morte-de-animais/
Um estudo do Pesquisador Felipe Branco da Universidade Federal do Pará (UFPA) analisou dados de três bacias hidrográficas da região amazônica — Atlântico Nordeste Ocidental, Tocantins-Araguaia e Amazônica. O resultado? Mais de 100 espécies de peixes e cerca de 10 de anfíbios ameaçadas foram identificadas nessas áreas, junto com 12 substâncias perigosas com QR maior que 1.
Entre os contaminantes mais encontrados estão pesticidas, fármacos, hormônios e antibióticos. Segundo o estudo, a presença desses compostos está ligada, principalmente, à expansão da agropecuária e à falta de saneamento básico, como coleta de esgoto e tratamento de água.

Figura 2. Gráfico descritas as espécies ameaçadas nas diferentes bacias analisadas e quantidade de CE’s encontradas. Disponível em: https://revistabrasileirademeioambiente.com/index.php/RVBMA/article/view/942
Mas por que isso importa? Os efeitos dos contaminantes emergentes são variados e alarmantes: eles podem causar problemas de reprodução, atrasar o crescimento de organismos, afetar o sistema hormonal e até provocar a morte de animais aquáticos. Um dado curioso: pesquisadores observaram que até a frequência cardíaca de embriões de peixes pode ser alterada — um sinal que pode ser usado como indicador de contaminação.
E não para por aí. Como nós consumimos muitos desses peixes e frutos do mar, os contaminantes podem chegar até o nosso prato. Entre 2007 e 2014, foram registrados mais de 25 mil casos de intoxicação humana no Brasil.
Acesse o OCA Acadêmico e fique por dentro do trabalho na íntegra!
Referências
BRANCO, F. O. L. ; CARDENAS, S. M. M. ; SERRAO, I. C. G. ; CUNHA, I. R. V. ; AMADO, LILIAN LUND ; KUTTER, V. V. T. . Contaminantes Emergentes na Bacias Hidrográficas Brasileiras e seus potencias efeitos em espécies ameaçadas de extinção. Revista Brasileira de Meio Ambiente, v. 9, p. 140-174, 2021.