As praias e o turismo
Sabemos que as atividades comerciais desempenham um papel fundamental no turismo e são essenciais para a economia local, especialmente em regiões sustentadas por atividades turísticas. No entanto, quando não são devidamente regulamentadas, podem gerar impactos ambientais significativos, tanto diretos quanto indiretos. Um desses impactos é a alteração de espécies encontradas na areia das praias, que se torna ainda mais evidente nos períodos de alta temporada quando o aumento no número de visitantes intensifica as pressões sobre o ambiente.
A faixa de areia das praias desempenha um papel fundamental na conexão entre os ecossistemas marinho e terrestre, além de contribuir para o ciclo de nutrientes essenciais ao crescimento e à manutenção da cadeia alimentar de diversas espécies. Os invertebrados são um dos principais grupos encontrados nesses ambientes, como moluscos e anelídeos, destacando-se as espécies Donax striatus and Scolelepis squamata. No entanto, quando essa área é utilizada para a circulação de veículos, os impactos vão além dos danos ambientais: também representam riscos à segurança dos frequentadores.
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Figura 1 e 2. Na figura 1, a espécie Donax Striatus, na figura 2, a espécie Scolelepis squamata. Fonte: Figura 1: Femorale; Figura 2: WORMS. Figura 2 disponível em: https://www.aphotomarine.com/worm_scolelepis_squamata.html.
Como isso afeta os seres locais?
Diversas pesquisas indicam que o aumento do número de visitantes está diretamente relacionado ao maior impacto sobre a fauna e a flora local. Esses impactos podem ocorrer de forma direta, como a eliminação de organismos mais vulneráveis, especialmente aqueles sem estruturas de proteção, como conchas ou exoesqueletos rígidos. Além disso, há impactos indiretos como a alteração das características do substrato, afetando espécies que dependem desse ambiente para abrigo e alimentação, como os organismos filtradores.
Pesquisadores da Universidade Federal do Pará e do museu Emílio Goeldi buscaram analisar o impacto das atividades turísticas na fauna bentônica em duas praias do município de Salinópolis – praias do Atalaia e da Corvina. Destaca-se que na praia do Atalaia a circulação de veículos é permitida e, na Corvina, essa prática é considerada proibida. Segundo o IBGE, Salinópolis recebe mais de 280.000 turistas durante o verão da região – demanda em contínuo crescimento.
O estudo envolveu a coleta de amostras de areia nas duas praias, tanto durante quanto após o período de veraneio, permitindo a comparação de diferentes parâmetros: tamanho dos grãos, classificação, compactação, porcentagem de areia e teor de matéria orgânica. Entre os fatores analisados, a compactação da areia se destacou como um dos mais relevantes, sendo diretamente influenciada pela intensidade das atividades antrópicas no local. Além disso, na praia do Atalaia, especificamente na área de circulação de veículos, foi observada uma menor diversidade e quantidade de espécies em comparação com a mesma faixa na praia da Corvina.
Ainda, foi observado que a faixa de areia mais próxima das residências, em ambas as praias, apresentou menores índices de diversidade de espécies tanto antes quanto depois do período de veraneio. Isto é, além da circulação de veículos, a presença de residências também contribui para as alterações ambientais nestes ecossistemas, podendo gerar impactos irreversíveis sobre a fauna local.
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Figura 4. Passagem de veículos em Salinópolis. Fonte: G1 Globo. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/para/minha-praia/2017/noticia/carros-submersos-e-motoristas-alcoolizados-fazem-parte-da-rotina-da-praia-que-vira-rua-no-verao-do-pa.ghtml
Como melhorar este cenário?
Os pesquisadores sinalizam a importância do monitoramento contínuo e estudos de longo prazo para compreender como esses impactos afetam esses ecossistemas, de forma a viabilizar a implementação de medidas que conciliem o turismo e a preservação ambiental. Por fim, o estudo sugere o controle e a descentralização do fluxo de visitantes, além da proibição do tráfego de veículos nas praias, como possíveis medidas para garantir a qualidade de vida da comunidade local e a conservação da biodiversidade.
References
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2022.
Reyes-Martínez, M.J., Ruíz-Delgado, M.C., S´ anchez-Moyano, J.E., García-García, F.J., 2015. Response of intertidal sandy-beach macrofauna to human trampling: an urban vs. natural beach system approach. Mar. Environ. Res. 103, 36–45.
Santos, Thuareg; Venekey, Virág; Petracco, Marcelo. Do recreational activities affect macrofauna distribution pattern in Amazonian macrotidal sandy beaches?. Elsevier. 2023.