Resíduos Sólidos e os rios urbanos da Amazônia
A produção de resíduos sólidos ultrapassou os limites da população mundial, trazendo inúmeras problemáticas ambientais como consequência – com estimativa de aumento desse número em até duas vezes até 2030. Neste contexto, os rios urbanos são pontos de concentração para esses resíduos, especialmente plásticos, com a capacidade de reter os detritos ou transportá-los para outros locais com o impacto direto das chuvas, maré e vegetação nesse processo.
Figura 1. Confluência do Rio Tucunduba com o Rio Guamá. Foto: LAPMAR
Abrigando 14 bacias hidrográficas, Belém é uma capital da região amazônica impactada pela poluição urbana. O crescimento urbano somado ao descarte inadequado de resíduos e saneamento básico deficiente influencia diretamente na poluição costeira da cidade, intensificado em períodos de chuvas que transporta os resíduos das ruas para os canais fluviais.
A cadeia de impactos causados pelo descarte de resíduos é ampla, como a obstrução dos cursos d’água e contaminação dos organismos e população. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) avaliaram os rios urbanos de Belém com o objetivo de avaliar o quantitativamente o transporte de resíduos sólidos pelos corpos hídricos e o impacto das chuvas e da maré no processo.
Figura 2. Rio Tucunduba com resíduos sólidos na margem. Foto: LAPMAR.
Os registros de macroplásticos foram variados, desde garrafas plásticas e embalagens até pneus e mobílias. A quantidade de itens transportados é maior durante o período de chuvas na região, devido sua relação direta com a inundação dos cursos fluviais.
A pesquisa mostrou que, o fator de aumento das chuvas combinado à períodos de maré vazante (fase de escoamento) promovem o transporte dos resíduos, estabelecendo uma rede de transporte do lixo descartado na cidade até o oceano.
Figura 3. Rios avaliados, em amarelo Rio Tamandaré e em azul Rio Tucunduba. Mapa: Gabriel Rosa, disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0269749124019961?via%3Dihub.
A pesquisa monitorou dois rios urbanos em Belém, com diferentes níveis de vegetação. O rio com menor índice de vegetação registrou transporte de detritos cerca de 189 vezes maior em períodos de chuva quando comparado à estação menos chuvosa da região. Para o rio com maior índice de vegetação, esse número foi cerca de 6 vezes maior em épocas de chuva.
Os pesquisadores indicam a vegetação e o saneamento urbano como os principais fatores de transporte de poluentes no curso fluvial, além de chamarem atenção para necessidade de mais estudos para mensuração dos impactos no ecossistema local. O monitoramento dos rios urbanos, saneamento básico de maior qualidade e destinação correta dos resíduos — como a reciclagem e a geração de energia — são de extrema importância para que a questão não se agrave e passe a gerar mais impacto ambiental.
Figura 4. Resíduo plástico encontrado no Rio Tucunduba. Foto: LAPMAR.
References
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