Observatório da Costa Amazônica

Sargassum e a Costa Amazônica: A Conexão Entre Ecossistemas

Os ecossistemas marinhos da Plataforma Continental Amazônica (PCA) são fortemente influenciados pelos rios da região, especialmente o rio Amazonas e estuário do rio Pará, que despejam mais de 30% de toda a água doce que chega aos oceanos no mundo. Isso é impressionante, não é?

Mas não é só isso. Esses rios também levam nutrientes para o mar, que são uma espécie de “alimento” essencial para organismos microscópicos, como as algas. Esses seres fazem o que chamamos de produção primária, ou seja, transformam a luz do sol em energia – e isso alimenta toda a cadeia alimentar marinha. Estima-se que os rios amazônicos contribuam com cerca de 25% dessa produção de energia nas áreas costeiras!

Essa importância vem do grande volume de nutrientes (substâncias que ajudam no crescimento de organismos) que os rios levam para o mar. Esses nutrientes são essenciais para o crescimento de microalgas, que são pequenas plantas marinhas, e ajudam a transformar o gás carbônico (CO₂) em algo menos prejudicial ao meio ambiente.

Desde 2011, cientistas têm notado o aumento de grandes manchas de uma alga marinha chamada Sargassum. Ela forma “ilhas” flutuantes sobre o oceano. Essas algas não crescem no fundo do mar e, apesar de serem naturais, quando crescem demais, podem prejudicar a vida marinha, o turismo e a pesca. A causa desse crescimento exagerado ainda não é totalmente entendida, mas acredita-se que as mudanças na temperatura dos oceanos estejam influenciando esse fenômeno.

Para investigar isso, o pesquisador Rafael Aquino, do Laboratório de Pesquisa e Monitoramento Ambiental Marinho (LAPMAR), realizou um estudo entre 2018 e 2019. Ele analisou 82 pontos ao longo da PCA durante diferentes períodos do ano: chuvoso, seco e períodos intermediários. Durante o estudo, foram medidos dados como pH e temperatura da água, salinidade, oxigênio dissolvido, turbidez e nutrientes, como o amônio (um tipo de nutriente que ajuda as plantas a crescer).

Figura 2. Mapa do local de coleta. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969722055310

Os resultados mostraram que, no período seco, a água do mar estava mais salgada, mais quente e com mais oxigênio. Já no período chuvoso, a água ficou mais turva e a acidez aumentou. A quantidade de clorofila a (um indicador de presença de algas) variou ao longo do ano. O amônio foi o nutriente mais encontrado, especialmente na época de chuvas, quando o volume de água do rio Amazonas e estuário do rio Pará aumenta.

E aí vem o ponto chave: esse aumento no amônio coincidiu com a maior presença de Sargassum, o que indica que os nutrientes que vêm dos rios podem estar ajudando essas algas a crescerem demais. Mas a ação humana também tem influência nesse processo: o estudo indicou que o desmatamento, o uso exagerado de fertilizantes na agricultura e o esgoto sem tratamento jogado nos rios podem causar aumento dos nutrientes, causando a chamada eutrofização – quando há tanto nutriente que as algas crescem de forma descontrolada, prejudicando todo o ecossistema.

Portanto, entender como os rios amazônicos influenciam o oceano é essencial. Isso ajuda a proteger a biodiversidade, garantir a segurança de comunidades costeiras e de atividades ligadas ao mar.

Sargassum e a Costa Amazônica: A Conexão Entre Ecossistemas

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