Observatório da Costa Amazônica

Mudanças morfológicas em peixes após a implementação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí

Após a década de 30, o cenário internacional se focou no desenvolvimento econômico. Os países considerados subdesenvolvidos almejavam sair desse patamar e alcançar o desenvolvimento. Para isso, os recursos naturais de cada país foram explorados. A idéia de usinas hidrelétricas foi mundialmente incentivada nos 1930 e 1950 (Oliveira, 2018). O Brasil se alinhou a essa visão, uma vez que tinha o objetivo de superar o atraso e a pobreza no país (Oliveira, 2018). Para a implantação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT), localizada no rio Tocantins (Pará), os estudos de viabilização iniciaram em 1972 e esta foi concluída no ano de 1984 (Cintra et al., 2013).

Imagens do Google Earth da Barragem Hidrelétrica de Tucuruí, antes (esquerda; dezembro de 1984) e depois (direita; dezembro de 2016) da construção da barragem. A barra de escala representa ~ 48,3 km (30 milhas). Fonte: Gilbert et al., (2020).

A construção da UHT gerou diversas mudanças morfológicas no ambiente. Atualmente, uma área de 3513,29 km² está inundada. A presença da UHT impede o fluxo migratório de peixes entre o baixo e o médio Tocantins, além de transformar um ambiente lótico em lêntico (CBM, 2000), onde anteriormente haviam corredeiras rasas de águas claras e posteriormente se tornaram um grande lago profundo e barrento (Gilbert et al., 2020).

Neste ano de 2020, um estudo foi publicado sobre as mudanças morfológicas que ocorreram em várias espécies de peixes após o represamento do rio Tocantins (Gilbert et al., 2020). Para isso, seis espécies de ciclídeos (peixes da família Cichlidae) coletados em 2018 foram comparados morfologicamente com ciclídeos coletados na mesma localidade antes ou logo após o fechamento da Hidrelétrica de Tucuruí em 1984.

Mudanças foram observadas em duas espécies, Cichla kelberi e Cichla pinima. A primeira desenvolveu “deep body”, corpo mais largo na direção das costas a barriga do que da boca a barbatana caudal, e boca maior. A segunda foi oposta, onde desenvolveu um corpo mais alongado. Para as espécies Geophagus neambi e Satanoperca jurupari, ocorreram mudanças associadas à morfologia da cabeça, como mudanças no tamanho e posicionamento dos olhos, comprimento da mandíbula, dimensões do crânio e tamanhos dos opérculos. Caquetaia spectabilis e Heros efasciatus, também exibiram alterações na morfologia do corpo e da cabeça. Assim, nós observamos que, em 36 anos, a presença da UHT impactou na morfologia dos corpos destas espécies de peixes, as quais foram obrigadas a se adaptar ao novo tipo de ambiente formado.

Representação dos opérculos nos peixes ósseos. Fonte: https://exerciciosweb.com.br/zoologia/ciclostomados-condrictes-e-osteictes-exercicios/

Referência

Cintra, I. H. A., Flexa, C. E., Silva, M. B. D., Araújo, M. V. L. F. D., Silva, K. C. D. A. 2013. A pesca no reservatório da usina hidrelétrica de Tucuruí, região Amazônica, Brasil: aspectos biológicos, sociais, econômicos e ambientais. Acta of Fisheries and Aquatic Resources, 1 (1): 57-78. 

Comissão Mundial de Barragens (CBM). 2000. Usina Hidrelétrica de Tucuruí (Brasil), RELATÓRIO FINAL. 297 p.

Gilbert, M. C., Akama, A., Fernandes, C. C., & Albertson, R. C. Rapid morphological change in multiple cichlid ecotypes following the damming of a major clearwater river in brazil. Evolutionary Applications, 00:1–18. DOI: 10.1111/eva.13080. 

Oliveira, N. C. C. D. 2018. A grande aceleração e a construção de barragens hidrelétricas no Brasil. Varia Historia, 34 (65), 315-346.

Mudanças morfológicas em peixes após a implementação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí

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